Portfólios e a organização do trabalho artístico: caminhos para a autocuradoria

Photo by Georgiana Voiculescu on Unsplash

Selecionar o próprio trabalho nem sempre é uma tarefa fácil. Como a Ju Blasina já comentou aqui, a Síndrome de Impostora é algo que persegue muitas de nós, e dificulta perceber a consistência daquilo que produzimos.

Após analisar os trabalhos recebidos para o primeiro volume da Zine Marítimas, juntamente com a Ju e a Suellen, percebi que a autocuradoria (essa capacidade de selecionar o próprio trabalho e divulgá-lo) é um ponto que ainda suscita dúvidas e questionamentos nas artistas (independentemente de ser da área literária ou visual).

Por isso, decidi resgatar um post publicado no meu blog pessoal em 2013, mas que continua bastante atual: como montar um portfólio (impresso e online). Tentarei passar toda a experiência que tenho no assunto, pois já estive dos dois lados: de quem analisa e de quem é analisado.

Tenha em mente alguns passos fundamentais na hora de selecionar os seus trabalhos. Portfólio artístico não engloba toda a sua produção. Você pode (e deve!) ter um blog, Tumblr, página no Facebook ou Instagram para publicar o fluxo contínuo do seu trabalho. Isso ajuda a criar uma conexão com o público, estimular a criatividade e treinar bastante – seja a escrita, seja o desenho, ou o que for. Porém, no seu portfólio, você publicará aquilo de mais relevante e atual na sua obra.

Não existe uma quantidade mínima ou máxima de trabalhos para compor um bom portfólio. O importante é selecionar coisas que sintetizam sua visão criativa e ofereçam para o avaliador um panorama daquilo que você tem a oferecer. A seguir, listei alguns pontos fundamentais na montagem de um bom portfólio:

A área de interesse: para que você precisa montar um portfólio? Pode ser para editais de fomento à cultura, seleção de estágio, vagas de trabalho, projetos acadêmicos, curadoria... Preste bastante atenção nesse ponto: parece banal, mas muita gente simplesmente não lê a documentação exigida num processo seletivo e não apresenta algo consistente. Geralmente, é publicado um modelo a ser seguido, e cada instituição/ empresa tem suas regras.

Foco: se a empresa está contratando um ilustrador, de nada adianta mostrar fotos de uma exposição de pinturas a óleo, feita há 5 anos atrás. Se você não tem uma quantidade relevante de trabalhos, aposte na qualidade... sempre. O mesmo vale para um edital literário, por exemplo. Se o foco são poemas, evite inserir um grande volume de crônicas.

Breve currículo: Apresente sua formação acadêmica, experiência profissional, softwares que domina e exposições ou publicações das quais tenha participado. Nada de encher várias páginas com reflexões e devaneios. Mantenha o foco no seu trabalho e na área de seleção ou edital. E escreva ao menos um parágrafo conciso sobre sua contribuição para o projeto/ vaga de emprego/ galeria, etc., pois demonstra interesse e transmite a sensação de que você realmente quer contribuir e crescer. Pequenas notas e links de aparições na mídia também são interessantes, mas cuidado para não parecer uma egotrip.

Separação do material: em caso de portfólio de artes visuais impresso, deixe os seus originais em casa e faça cópias em alta resolução, de preferência em papel couché ou superior. Mostre detalhes de uma peça, aplicações (mokups) e, se for utilizar fotos, jamais escolha as que estão com luz estourada, muito escuras ou fora de foco. No caso de textos, priorize uma diagramação agradável ao leitor.

Suportes: nada mais desagradável e amador do que receber um portfólio num envelope, amassado, ou então preso a um clipes. Tenha sempre uma pasta catálogo, mantenha as folhas plásticas limpas e crie uma página de identificação. Higiene e cuidado demonstram maturidade e respeito com o próprio trabalho. Geralmente, os portfólios são devolvidos em até 30 dias, após as seleções ocorrerem.

Na rede: mantenha um portfólio online em plataformas profissionais, como o Behance, Medium, ou então uma página ou marcador no seu blog, ou álbum na sua rede social específico para este fim. Geralmente, as plataformas profissionais permitem a criação de álbuns, coleções, tags, envio de arquivos confidenciais (liberados por senha, para projetos que não podem ser divulgados antes da publicação), dentre outros recursos que facilitam a catalogação dos trabalhos, além de possuírem conexões com várias redes sociais. Ter uma versão em PDF sempre atualizada também é fundamental, e ajuda muito no envio de arquivos pela internet. Melhor ainda se estiver hospedada num drive, que permita links de compartilhamento.

Espero ter contribuído um pouco para esclarecer essa questão. Como tudo na vida, não existe receitinha pronta. Cada ocasião vai exigir uma postura diferente, e é para isso que o profissional precisa estar preparado.

Abraços,
Lidiane Dutra - equipe editorial Marítimas

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